quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Milton Nascimento

  
 Já viu antes a foto dessa linda moça

Ela nasceu em 1918. Nasceu mulher, negra e pobre. Batizada Maria do Carmo, ficou conhecida por Carminha. Mal acabou o básico do ensino ofertado aos pobres, migrou de Minas Gerais para o Rio de Janeiro.
Amava cantar, seus grandes olhos castanhos e amendoados se fechavam sempre que ela cantava Ataulfo Alves. Mas cantar era só um sonho, a vida e a fome falavam mais alto.

Em 1939, aos 21 anos, Carminha já lavava roupas para fora e cozinhava em casas de famílias cariocas. Jamais teve medo do serviço. Um dia, conseguiu um trabalho de "carteira assinada", foi parar na rua Conde de Bomfim, na Tijuca. Trabalhava numa pensão e a sua patroa se chamava Dona Augusta de Jesus Pitta.

No início de 1942, esperava o bonde na frente da pensão da Dona Augusta, Carminha conheceu um homem chamado João, motorista do bonde da linha Tijuca. Eles se apaixonaram.

Os dois se encontravam todos os dias após o trabalho. Carminha ficou grávida. João não queria casar. Mas, casaram-se! A força da Maria se impôs sobre o machismo da época.

Grávida, Carminha seguiu trabalhando com a Dona Augusta. E numa tarde, enquanto trabalhava na pensão, seu bebê chegou. Nasceu ali, em um quarto da casa de Dona Augusta. Era um menino.Todos na pensão adoravam a criança.Certo dia, Carminha e Dona Augusta se desentenderam, coisas da vida, e Carminha se demitiu do emprego.

Com a criança no colo, foi morar com a família de João, na favela na Baixada de São Cristóvão. Com saudades da criança, Dona Augusta foi visitar Carminha.

Chegando na maloca, Augusta viu uma Carminha magra e uma criança mal nutrida. Pediu que Carminha voltasse com seu filho para Pensão. Ela não quis, orgulhosa.

Aos 25 anos, Carminha contraiu tuberculose. Cada vez mais magra, começou a temer que seu pequeno filho também viesse a se contagiar. Então, por amor, abriu mão do filho, pediu que o menino fosse levado de volta para a pensão. Augusta levou, cuidaria dele até Carminha melhorar.

Carminha estava muito doente e infelizmente morreu aos 26 anos, em 1944. João nunca mais procurou o filho. Que pai era aquele.🤔

Um dia, a filha de Dona Augusta, Lília Silva Campos, estudante de piano, aos 22 anos, disse para toda a família que queria adotar o pequeno. Não podia ir embora e deixar aquela criança ali, sem mãe. Tinha se apaixonado pelo filho de Maria Carmem. Pediu autorização para a avó, mãe de Carminha, que envolta em pobreza era incapaz de cuidar do menino. Pediu ao pai, o João. Lília virou mãe.

A criança foi morar com Lília na cidade mineira de Três Pontas, onde foi amado e cuidado. Cresceu vendo a mãe adotiva tocar piano na sala de casa.

Ele tem os olhos lindos da mãe Maria.Cresceu, tomou o gosto pela música. Começou a cantar em bailes.

O filho da Maria é Milton Nascimento, o Bituca...

E eu duvido que você ouça a canção Maria, Maria da mesma maneira... Maria é o som, é a cor, é o suor, é a dose mais forte e lenta, de uma gente que ri quando deve chorar. E não vive, apenas aguenta.

por: Frima Steinberg

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Crochê

Credito na imagem.



Metade

Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste...

Que a mulher que eu amo
seja para sempre amada
mesmo que distante.

Porque a metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.

Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço.

E que essa tensão
que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.

Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.

E que o teu silêncio
me fale cada vez mais.

Porque metade de mim
é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.

E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada.

Porque metade de mim é amor,
e a outra...
também.

Oswaldo Montenegro 

sábado, 5 de agosto de 2023

Alzheimer recolhendo os pedaços.

Voltar para casa
“Tanto faz o dia em que estamos, mamãe me pergunta o tempo todo que dia é esse. Ela está vivendo em um tempo fora do tempo, em um espaço quase sem lembranças. Por mais que procure algo familiar aqui na minha casa, ela não o encontra, quer as amigas, o cheiro de fumaça de caminhão, o barulho do escapamento, este lugar não cabe no coração dela. É como se flutuasse acima do mundo real e se protegesse de tudo com esse manto de insanidade.
Ela tenta se agarrar às lembranças das avós, dos irmãos quando eram crianças, na tentativa de resgatar a mulher que ela está perdendo.”
(Alzheimer diário do esquecimento)

Meus pais pediam insistentemente, para eu levá-los de volta para casa.
Papai nunca saiu de sua casa, mas a casa saiu dele; mamãe morava comigo, mas nunca saiu daquela casa, que ela sonhava retornar.
Aos poucos eu fui entendendo o que significava “voltar para casa”. Eles querem resgatar a casa que um dia abrigou Felicidade, na verdade eles queriam voltar para aquela Felicidade.
Não era a casa de tijolos e portas, janelas e piso rangendo. Era a casa que abrigava o barulho das crianças brincando; o cheiro de café e o gosto de bolo de fubá; o perfume do travesseiro, que guardava seus segredos; o cheiro do bife que só mamãe sabia preparar; o perfume do dia de limpeza e o cheiro da pipoca.
A casa era a maçaneta da porta rangendo, quando papai voltava do trabalho; ou o pano de chão sobre o tapete, que mamãe insistia em colocar para manter o tapete limpo.
A casa para onde eles querem voltar é feita dos detalhes da torneira pingando, que papai adorava consertar; do batente arranhado pelas escaladas das crianças inquietas; é a casa que abrigou o sonho de família, de felicidade, de prosperidade; a casa paga em muitas prestações, e cada uma delas tinha um gosto de vitória…
Eles querem morar naquela felicidade, e eu também."
Míriam Morata - trecho de Alzheimer recolhendo os pedaços

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Sextou... ótimo final de semana.

Osho e crochê.


 
 Lindo trabalho. Créditos a artesã nas imagens

"O rio passa ao lado de uma árvore, cumprimenta-a, alimenta-a, dá-lhe água... e vai em frente, dançando. Ele não se prende à árvore.

A árvore deixa cair suas flores sobre o rio em profunda gratidão,

e o rio segue em frente. O vento chega, dainça ao redor da árvore e segue em frente.

E a árvore empresta o seu perfume ao vento... Se a humanidade crescesse,

amadurecesse, essa seria a maneira de amar."

Osho