Sim
para sempre
não há fechar ciclos
meter a vida
dobrada numa
e noutra
gaveta
muito menos
gente
tudo é grande
maior
e fica
fica
mesmo que os olhos
do corpo
não vejam
e cada pedacinho
aperte
nas lágrimas que caem
no coração recolhido
ao pequenino
na vontade primária
do regresso à posição
primeira
se faça presente
no retorno a esse lugar
quieto
e seguro
onde se quer ficar
dói
viver
nas "perdas" da vida
mesmo
que a teoria seja
sabida no soletrar
da lengalenga
de que nada morre
de que tudo é como é
que o amor é eterno
e que tudo têm um propósito
e que a morte é missão cumprida
na vida que segue adiante
sim
está bem
muito bonito
para emoldurar
e sim
poder ficar nesse rezo
dos dias de sol
mas a dor
permanece
nos dias de chuva
e tempestades
que vão sempre
acontecer
e sim
é aí
que se sente
que é para sempre
não arrancamos pedaços
de nós
a cada pessoa que vai
a cada história que chega ao fim
não
NÃO
é impossível
tudo segue em cada célula nossa
somos a vivência viva
para sempre
somos as pessoas
que nos cruzam a existência
somos as histórias
que partilhamos os nossos instantes
claro
que vamos passar
estágios
o tal percurso do luto
sim
e ele não têm a missão
de comandar a nossa vida
NÃO
e sim
o tempo
traz algumas ruelas bonitas
para descansar
mas tudo vai sempre
fazer parte
de nós
e é nesse para sempre
descansado
e rendido
que tudo fica mais fácil
mesmo
e principalmente
naqueles instantes
em que se deseja
ter de volta
alguém
que amámos
ou voltar
aquele recanto da história
onde foi bom
existir
o luto é para sempre
até que a memória se diluir
ou o coração
simplesmente
parar
até lá
seremos saudade
num luto latente em nós
nos dias que vai doer muito
e noutros tantos
onde que nos iremos lembrar
que tudo aqui é tão pequenino
no apego
no infinito que somos
[noutro] lugar
aí
mas até lá
somos só humanos para sempre
Texto Sónia Machado Oliveira